Escrito por: Vinicius “Veritas Volpe” Tarouco
Arte Por: Gabriel Gondran
Bafo Frio
Com a curiosidade falando mais alto que o meu medo, apanhei não só minha lanterna, como também alguns suprimentos e fui a procura por esta suposta duna, apenas para me ver aborrecido e cansado, após horas de caminhada nesta praia sem fim. Fiz esta jornada por quatro vezes durante uma semana, e na última tentativa, quando estava por me convencer que trilhar esta aventura era uma loucura interna somada a história no diário de Luckoc, avistei algo que me estremeceu por inteiro: um cão de três patas. O animal me encarava, após eu ter deixado pegadas por alguns quilômetros na areia. Seu olhar era neutro, informal… e sua face, de alguma maneira parecia dizer-me que estava esperando por mim. Quando o cão se aproximou, recuei por impulso, mas após deixar ele se aproximar e usar uma de suas habilidades instintivas, o faro, dirigiu-se por entre as intermináveis dunas da praia… e eu à segui-lo.
Finalmente havia encontrado a secreta e temível gruta, graças ao misterioso cão. Fiquei pasmo ao me aproximar dela… como poderia um frio tão forte emanar de seu interior, quando o sol lá fora quase me matara desidratado? Olhando novamente ao meu redor, percebi que aquele velho cão não se encontrava mais ali. Lembrando das decrépitas palavras escritas naquele antigo diário, senti uma força descomunal me puxando de volta… como se fosse um compasso subliminar me avisando dos perigos daquela gélida caverna que, ficava abaixo de uma duna.
Enfrentando meu medo, adentrei então, no profano lugar provido da fraca luz de minha limitada lanterna. Após uns 100 metros me infiltrando pelo túnel, minha visão já acostumara por completo com a pouca iluminação que meu equipamento fornecia diante da escuridão da caverna, de modo a conseguir enxergar ao meu redor, mas não muito mais longe do que isso. Após um período descendo a escura gruta, senti o frio amortecer os dedos de minhas mãos e pés, mas me senti aliviado ao chegar até uma enorme sala, onde pude enxergar diversos artefatos. Encontrei todos aqueles que haviam sido catalogados por Luckoc e mais alguns, mas não encontrei a máscara de jeito nenhum… será possível? Mais alguém teria vindo de encontro a este lugar e removido a máscara? Poderia ser isso a causa dos corpos que estavam a surgir na praia? Meu medo se fortaleceu ao lembrar da estranha criatura que o comerciante inglês havia avistado como um vulto quando entrou na câmara dos artefatos. Talvez esse demoníaco ser fosse o causador das mortes, como se a máscara tivesse algum papel importante nesses horripilantes casos. Conjecturei as mais derivadas teorias que pude associar em relação aos corpos e a máscara enquanto corria de maneira rápida, horas batendo o joelho, outras escorregando, para chegar o mais depressa possível à saída.
Assim que saí da gruta, me senti perdido. Já estava noite. Não podia ser possível. Não passara das duas da tarde quando comecei minha caminhada a procura da Duna, e não ficara muito tempo lá para ter passado tantas horas desta maneira. Enquanto minha mente devaneava com o impossível acontecimento, senti um ar frio em minha nuca. Acompanhado deste gélido ar pude sentir um forte odor de peixe. Ao me virar, após alguns segundos de total desespero, olhei para trás, apenas para me ver sozinho, e o forte cheiro aos poucos se dissipar. Me vi mais uma vez correndo, agora sob o céu negro estrelado, em direção a casa que alugava no Cassino. Chegando, tudo que consegui fazer foi deitar na cama, ainda coberto pela areia da maior praia do mundo. Ao me virar e olhar a data no relógio em cima do criado mudo, senti um atordoamento sem igual… eu havia perdido dois dias. Com a cabeça muito cheia para pensar a respeito e minhas pálpebras pesadas, simplesmente caí no sono… apavorado.
A Duna do Guardião da Rainha do Mar termina no epílogo!
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