Devemos ser críticos daquilo que estudamos. Grande parte das leituras contemporâneas de geopolítica, por exemplo, são textos afetados pelos autores das obras, mesmo quando baseados em dados quantitativos e qualitativos.
A leitura de um livro que trata sobre o atentado terrorista do 11 de setembro que destruiu as torres gêmeas em 2001, como O Vulto das Torres — A al-Qaeda e o caminho para o 11 de setembro (The Looming Tower, al-Qaeda and the Road to 9/11) escrito pelo jornalista Lawrence Wright pode até apontar os graves erros (que em certo ponto até creditam) os Estados Unidos como culpados por permitirem o atroz atentado devido a falta de comunicação entre os departamentos da CIA, FBI e NSA.

Mesmo assim, seu conto descreve personagens (os que ficam ao lado dos Estados Unidos) de maneira embelezada, seja mental ou física, quanto que denigre a imagem, nem que seja somente física, dos personagens envolvidos com a al-Qaeda. Essa já é uma forma afetada para tentar pender o leitor para um lado da história (como se fosse necessário tal técnica para convencer o leitor a ir contra o horrendo islamismo extremo).
Nestes livros de análises políticas somos sempre apresentados a diversos personagens que tomam decisões que vão contra ou a favor daquilo em que acreditam.
Porém, como ficam os personagens que tiveram o destino selado por uma decisão feita por terceiros?
Na série Messiah, do serviço de streaming por assinatura Netflix, somos apresentados a diversos personagens interessantes. Eva, uma agente da CIA, o al-Massih, suposto novo Jesus de todas as religiões; e até mesmo Jibril Medina, o pródigo rapaz “tocado” pelo Messiah.
Mas e o seu amigo (de Jibril), aquele que representa tantos jovens muçulmanos que mais parecem cumprir o papel de Samwise Gamgee, em O Senhor dos Anéis, que era para auxiliar o Frodo (neste caso Jibril), porém é a personagem que acaba fazendo todo o serviço?

O nome deste personagem em Messiah é Samir (interpretado por Tarifa Landoulsi). Na vida real, ele seria mais de um dos inúmeros jovens muçulmanos incógnitos; vitimas de uma lavagem cerebral religiosa, desde jovens, por terroristas que creem no islamismo extremo do oriente médio. Os seus destinos são se tornar armas vivas, o temido homem bomba que tanto assolam os civis dos países de primeiro e terceiro mundo.
Samir, o jovem personagem que busca ajudar seu amigo Jibril, que foi tocado pelo Messiah, não consegue nem terminar de ler o clássico infantil O Pequeno Príncipe, do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, até ser levado em um campo de treinamento terrorista e escutar (e ser obrigado a ler) que o único livro permitido é o Alcorão.

Sua jornada durante a série, do início ao fim, busca retratar de uma maneira resumida e, de certa forma, até branda, o que o extremismo religioso do oriente médio faz aos personagens. No final, seu propósito (como personagem) é trazer o valor do choque, se explodindo em meio a multidão, e sendo esquecido para fortalecer os holofotes centrados no Messiah, à agente da CIA Eva ou do agente da Mossad (de Israel), Aviram.
E assim segue o mundo, com os holofotes grudados nos inúmeros “salvadores” que surgem, das instituições que possuem interesses da “União”, dos magnatas privados e governos extremistas, enquanto os anônimos são esquecidos nos viés da história, cumprindo um objetivo que serve a um seleto grupo de indivíduos, e não à um “chamado maior”. Assim como a capa deste artigo, o holofote está em outros personagens.

O preço que pagam não é só o de ser esquecido na história, mas também pagar com sua própria vida. Um destino que no caso dos mais jovens, não é nem uma escolha própria.