Escrito por: Vinicius “Veritas Volpe” Tarouco
Arte Por: Gabriel Gondran

Artefato

Ao acordar no dia seguinte e confirmar que realmente se passara dois dias dentro da caverna, simplesmente fiquei perplexo. Passei um trabalho danado para conseguir explicar minha ausência e achar uma desculpa plausível para meu chefe em meu trabalho, enquanto minha mente tentava de maneira fútil compreender, como o tempo poderia funcionar diferente dentro daquela misteriosa gruta.

Antes de encerrar minhas últimas palavras nestas linhas, preciso contar um último fato deveras curioso. Se acreditar em alguma palavra do que parece ser total loucura do que descrevi até aqui, então, não deverás ter problema em acreditar e decifrar as próximas linhas… se você for daqueles céticos, como já fui um dia, peço que deixe este diário aqui, para que outro, de mente mais aberta, possa encontrar estes relatos e tentar fazer um bom proveito dele.

Ao sair do meu trabalho, fui como de costume, tomar um café em minha cafetaria favorita, “Doux Café”. Ao pedir meu típico café romano com raspas de limão e canela, vi um homem, me encarando. Era de aparência velha e parecia desleixado. Ao se levantar, veio em minha direção e pude perceber, pela muleta que carregava em seu braço esquerdo, que não possuía a perna deste mesmo lado. Seu olhar era… neutro, porém afiado. Com seu nariz aquilino, deu umas duas fungadas ao seu redor e voltou a me encarar, mais concentrado e disse: “Você sabe o que deve fazer. Uma vez com o conhecimento, não há mais volta”. Desta vez não estremeci. Olhei para ele e retruquei: “Realmente, a ignorância é uma benção”. Juntos rimos, e um objeto ele me entregou. Era triangular e sua textura me pareceu um tanto indígena. Ele recitou algumas palavras, dizendo que eu saberia como usá-lo na hora de necessidade e que estaria me aguardando para enfrentar algum ser marinho surgido dos lugares mais remotos do oceano… um lugar que nós humanos chamamos de Zona Abissal. Ao se encaminhar em direção a saída, ousei a perguntar como houvera perdido sua perna esquerda. Ele apenas disse: “Houve uma vez em que eu corria mais rápido que o vento” e ao perguntar seu nome recebi, novamente, uma resposta enigmática: “Um dos mais renomados artistas do seu país me caracterizou em suas obras de maneira cômica… seu sobrenome era Lobato, se não me engano.” e ao soltar estas palavras, saiu.

Agora termino de carregar uma calibre 12 de dois canos que coloco dentro de uma mochila assim como água e uma lanterna portátil para retornar a duna. Não sei quem, nem o porquê da mascara não estar mais naquela obscura gruta, mas sei que minha responsabilidade para com esta ingrata cidade é maior. Receio que esta criatura que desconheço não possui rédeas, e caso saia realmente de controle pode afetar muito mais do que Rio Grande. A você, leitor deste diário, espero que sejas corajoso. Entretanto, caso não escute mais falar de mim nos próximos dias, será você o próximo a trilhar por estas estradas desconhecidas.

Fim

Acompanhe o material especial desta obra em: Rio Grande – Cidade Histórica recheada de conteúdo para ficção

Leia a parte 1 de A Duna do Guardião da Rainha do Mar clicando aqui!

Leia a parte 2 de A Duna do Guardião da Rainha do Mar clicando aqui!

Leia a parte 3 de A Duna do Guardião da Rainha do Mar clicando aqui!

Por

Escritor, crítico e redator aficionado por livros e jogos eletrônicos. Conhecido como Veritas Volpe no ambiente artístico e literário.

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