Título Original: The Tempest
Escritor:
William Shakespeare
Tradução: Beatriz Viégas-Faria
Editora: L&PM Pocket
Ano: 1610 (ou 1611) – Mundo

Não adianta, se tem algo de muito forte nas obras de Shakespeare que o imortalizam, eu falho miseravelmente em enxergar.

Eu entendo a importância histórica das obras. Muitas peças teatrais fizeram sucesso performando as clássicas obras deste talentoso dramaturgo. E apesar de ter encontrado fortes frases e muitos trocadilhos em Romeu e Julieta e Otelo, não consigo enxergar o porque deste alvoroço em cima das peças do autor.

Talvez seja pela complexidade da peça levada em consideração sua época, mas teatros eram realizados desde a Grécia antiga. De qualquer maneira, sempre me interessei no autor por 3 motivos:

  • O filme Júlio César, de 1953, é baseada na obra (gosto muito de livros da época da Roma antiga)
  • A Tempestade é o livro que o protagonista lê antes de cometer um assassinato que dá início a trama no jogo Fahrenheit (Indigo Prophecy) no Playstation 2
  • “O passado é prólogo”, frase de impacto no trailer do game de Nintendo Wii: Metroid Other M, foi tirada do livro A Tempestade.
William Shakespeare A Tempestade auto do livro
William Shakespeare, um dos (se não o maior) dramaturgo de todos os tempos.

A Tempestade é uma salada mista, mas o foco é vingança e perdão

A ambientação é maravilhosa e, tirando as partes cômicas (que são muitas) é bem atmosférico. Um navio em meio a tempestade, a briga entre a realeza e os marinheiros até a tragédia da grande tempestade (um trocadilho do que virá a ser a história desse conto), que culmina com os tripulantes naufragados em uma ilha, me recordaram de Xógum, livro de James Clavel da qual gosto muito.

Não demoraria muito para os tripulantes saberem que a tempestade foi orquestrado por Ariel, um espírito controlado por Próspero, um antigo rei que vive na ilha com sua filha, que foi expulso de seu reino pela realeza que se encontrava no navio.

Na ilha, próspero ganhou diversos conhecimentos sobre espíritos e magia, mas nada disso é implícito, porque a própria narrativa de Shakespeare não busca explicar como funciona o universo da qual se passa a história, mas sim apresentar sentimentos humanos e suas reações.

A Tempestade. Cena do Livro
Representação artística de uma das cenas do livro com o espírito Ariel acima, e Caliban, escondido ao fundo.

Porém, como de praxe nos teatros antigos, a vulgaridade forçada e os muitos momentos de alívio cômico removem a seriedade e até mesmo a atmosfera que o livro pode proporcionar. Não sei se essa era a comédia da época, mas era, realmente, muito estranha. Sei que não podemos analisar só do ponto de vista atual, e tem que ser levado em consideração o domínio da língua inglesa por Shakespeare, mas mesmo assim, não consigo achar engraçado, e sua comédia forçada só remove a atmosfera teatral para mim…

E o pior de tudo é a perca do potencial. É claramente notável a capacidade e a importância histórica que alguns personagens possuem. Calibam, Miranda, Próspero e seus paralelos sobre escravidão, colonialismo, elite, vingança e perdão estão lá, mas ficam em segundo plano com as enfadonhas bebedeiras de Estefano e Tríunculo e o baixo calão geral dos xingamentos que tanto vemos nas obras do autor.

A Tempestade – a última peça de Shakespeare

É engraçado que tendo a me afastar de livros com a narrativa teatral. São difíceis de ler, com descrições vagas e servem, primeiramente, como um guia para se fazer uma peça visual (o teatro). Mas o paradoxo é tamanho que, mesmo tendo essa opinião quanto aos livros narrados em forma teatral, um dos meus favoritos é escrito desta forma (Copenhague, por Michael Frayin).

Espero um dia enxergar e também admirar esse autor do passado, afinal, a tempestade que é sua obra causa impacto até hoje.

O passado é prólogo.”

Por

Escritor, crítico e redator aficionado por livros e jogos eletrônicos. Conhecido como Veritas Volpe no ambiente artístico e literário.

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