Escrito por: Vinicius “Veritas Volpe” Tarouco
Arte Por: Gabriel Gondran
O Estrangeiro Indesejável
Assim que termino de ler mais uma matéria sobre um misterioso corpo que surge na grandiosa praia do Cassino através do jornal Dunas, escrevo este diário na qual dedico àqueles que, com mente aberta, se atrevam a ler após o encontrarem. Isto não quer dizer que terei ido a falecer caso você já esteja lendo estas débeis linhas, apenas que me encontro em uma aventura para enfrentar alguém ou alguma coisa que se encontra no universo do fantástico e da fantasia… ou pelo menos é o que imagino.
Esta leitura pode afetar sua crença e desafiar seu conceito do acreditar, e não vou persuadi-lo a não me chamar de louco já que, se fosse eu a achar este diário, e este escrito por algum desconhecido, também teria as mesmas dúvidas sobre o que foi escrito nestas tortas linhas que faço as pressas, devido ao tempo que me é roubado.
Sempre me interessei pela ficção das mais diversas crenças e assegurei minha carreira nesta área, onde poderia estudar as mais variadas mitologias, a par de que sou agnóstico e não me agarro em palavras religiosas para guiar minha vida; mas sim, como um esporte, pare entender o comportamento humano durante os séculos que se passaram. Ao começar a estudar sobre mitologias africanas, logo me vi na obrigação de viajar para pesquisar estes mitos tão arcaicos quanto à dos próprios europeus que, posteriormente, me guiaram até uma cidade no estado do Rio grande do Sul na qual é, coincidentemente, a cidade mais antiga do estado e uma das mais históricas do Brasil; a cidade inclusive carrega os dois primeiros nomes de seu estado: Rio Grande, que antigamente era chamada de Rio Grande de São Pedro.
Ao falar que vinha de longe, até então em férias, para pesquisar a história desta magnifica cidade, fui recebido de braços abertos, elogiado e credenciado pelos professores de história que tive a oportunidade de conhecer na faculdade da FURG, uma das mais importantes do estado. Mas ao conseguir um emprego na biblioteca pública (historicamente a mais antiga do Rio Grande do Sul) para me manter na cidade, o quadro se virou completamente. A população se fechou e aos poucos fui perdendo o contato com os poucos conhecidos que obtive. Alguns mais próximos nestes poucos meses que me infiltrei aqui inclusive se fecharam comigo… como se tivesse feito algo que os tivesse magoado.
Interessante fato que, em um desses claros dias, fui visitar o porto de Rio Grande, um lugar fétido, horas com cheiro de peixe, outras com cheiro de óleo; mas o que o olfato repugnava, a visão maravilhava, com a vastidão sem ondas do imponente mar com o sol a raiar lá no fundo, enquanto enormes embarcações dos mais derivados nomes e dos mais diversos países se tornavam pequenos diante do grandioso oceano. Altair, Estrela do Mar, Fallcet Impar e diversos outros nomes tentavam deixar sua marca naquele riquíssimo oceano. Grande parte das pessoas que trabalham no porto, assim como em suas embarcações, são estrangeiros, dos mais diversos estados e países, assim possuindo eles um aspecto em comum comigo. Lá ouvi as mesmas reclamações que havia mantido internamente… diziam eles: “não serem bem recebidos”, “as pessoas se fecham comigo” ou “é difícil criar amizades com os rio grandinos”. Esta vinda ao porto me rendeu um ótimo passeio e apaziguou à minha conturbada alma que, apesar de não ter criado nenhum elo de amizade com estes homens, pude ver que não era o único a passar por estes problemas que esta determinada sociedade fechada nos concebia.