Título Original: Arthur the King
Escritores: Allan Massie
Tradução: Laura Alves e Aurélio Rebello
Editora: Pocket Ouro
Ano: 2003 (Mundo), 2004 (Brasil)
O Rei Artur (Arthur em inglês) é tão mencionado atualmente nas obras de entretenimento que muita gente acredita que o Rei existiu de verdade. Porém, diferente de seu pai, Uther Pendragon, que é considerado semi-mitológico, o Rei Artur, segundo grande parte dos historiadores, permanece do âmbito da lenda.
E que lenda. Assim como Robin Hood, outro personagem muito narrado nos contos medievais em séculos passados (e que é lido até hoje) é visto como um personagem lendário mais do que histórico, e mesmo assim continua a encantar o nosso imaginário, praticamente como um personagem imortal da nossa história, seja real ou não.
E não é para menos. Artur estabeleceu a era áurea na ilha britânica que, antes dele, se encontrava em puro caos. Além disso trouxe a onda comportamental do cavalheirismo e fortaleceu a Távola Redonda (na qual alguns dizem ter sido criada por Pendragon, seu pai).
O Conto do Rei Artur nas palavras de Allan Massie
O escritor que nos trouxe as maravilhosas narrativas do império romano agora nos presenteia com a trilogia da Idade das Trevas. Rei Artur é o livro do meio desta saga, seguido pelo conto de Carlos Magno (Charlemagne, rei dos Francos) e iniciado em O Crepúsculo do Mundo, que narra a história do seu suposto avô, o imperador Marcos, que na vida real foi conhecido como O Usurpador de Roma.
Assim como seus livros sobre o império romano que são baseados nos registros reais destas épocas, o que Massie faz em O Rei Artur é coletar os contos do Círculo Arthuriano, na qual são contos praticamente mitológicos com o contexto histórico da Britânia (e que muitas vezes se contradizem) para narrar a vida de Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda.
E este conto é narrado, assim como os outros dois livros da saga, por Michael Scott para o futuro imperador Frederico II (1194-1250).
O início do livro é sensacional. Massie consegue trazer toda a mágica narrativa para esse lugar da Britânica medieval que, de fato, parece mais mitológica do que real. No entanto, começamos a aventura com Merlin em seu plano de coroar um rei Britânico de sangue real após a morte de Uther Pendragon, ao invés de deixar nas mãos dos já corruptos vassalos do falecido rei.
E este plano não é nada menos do que engendrar uma forma (mágica ou mecânica) de enfiar uma espada em uma pedra e, informar que quem remover a espada será coroado como o mais novo rei da Britânia. Sim, estamos falando da lendária Excalibur!
É interessante como o escritor conseguiu trazer este ar sábio ao Merlin. Suas frases são impactantes e não vou negar que me vi publicando essas frases algumas vezes no Twitter.
Como é amargo pensar que precisamos matar a criança para formar o homem.” – Merlin
Após o primeiro momento do livro, onde somos explicados quanto a situação de guerra da ilha europeia (entre lordes feudais e saxões), somos apresentados ao jovem Artur em sua jornada típica do Herói de Mil Faces, por Joseph Campbell. Retirado de uma vida boa e escondida (por Merlin) nas florestas da ilha, Artur se vê obrigado a viajar pela Britânia e aprender a humilhação que vivem as pessoas simples para se tornar um bom e humilde rei.
E como já é de se esperar dos livros de Allan Massie, que mostra bem a cultura corrupta patriarcal e pederasta de época antigas, Artur passa por abusos físicos e sexuais. É durante este momento que ele conhece Cal, que se tornaria seu conselheiro na corte. Artur e Cal são quase como um Augusto e Mecenas, no entanto, Arthur, apesar de ter uma linhagem real no conto de Massie, teve de passar por diversas provações geralmente relegadas à camponeses, quanto que Augusto (do império romano) nasceu em berço de ouro.
Rei Artur e a Távola Redonda
Artur se torna rei muito cedo e com o conhecimento adquirido durante os anos que ficou sob a tutela de Merlin, ganhou conhecimento suficiente para elaborar boas estratégias de guerra e lidar com a inveja dos cavaleiros mais antigos de seu antecessor, Pendragon.
Após ganhar inúmeras guerras e casar com Guinevere, para a decepção de Morgan Le Fay (que ao invés de ser retratada como uma fada, assim como nos antigos contos que compõe o Círculo Arthuriano, é apresentada como uma humana e meia irmã de Artur), o rei estabelece uma era de paz na ilha.
Este momento de paz causa uma inércia aos cavaleiros de Artur que, experientes em guerras, não encontram mais um significado para continuar vivendo.
Assim o rei cria a Távola Redonda e suas regras de cavalheirismo, com o propósito de dar liberdade aos cavaleiros de buscarem por aventuras e assim imortalizarem seu próprio nome. Desta forma inicia-se os contos de cavaleiros medievais, que se tornaram tão famosos durante a idade média.
Porém, essa seria a mesma medida que lançaria seus famosos cavaleiros como Lancelot, Gawain, Kai, entre outros menos famosos, em busca do Santo Graal (cálice onde Jesus teria bebido o vinho na última ceia), relíquia religiosa que prometia curar as feridas e garantir a vida eterna. Esta busca se mostraria catastrófica, levando grande parte destes cavaleiros a desaparecerem ou morrerem.
Aventuras Cavalheirísticas
A partir da segunda metade do livro, o conto se afasta dos personagens principais como Arthur, Cal, Guinevere e Merlin para dar espaço aos contos medievais de cavaleiros, que são narrados desde a época do Rei Artur até os tempos atuais.
Os limites da tua língua são os limites do teu mundo; o homem cuja linguagem é limitada e restrita, vive como alguém na prisão, ao passo que quem tem amplo comando da linguagem e consegue formular agradáveis imagens mentais, pode ser livre, mesmo quando confinado nas masmorras.” – Merlin
Entre estes contos está o famoso “Sir Gawain e o cavaleiro verde”, conto medieval antigo que até mesmo Tolkien (autor de O Senhor dos Anéis) escreveu uma versão mais atual.
O desfecho da Britânia do tempo de Artur aos olhos de Massie é sombrio assim como nos contos do Circulo Arthuriano. Na ficção do autor, Mordred (filho de Artur e Morgana que, quando tiveram o filho, não sabiam ser meio irmãos), cavaleiro de índole má e mesquinha, acaba dominando a Britânia quando Artur se ausenta em Ravena (na Itália).
O Rei tenta recuperar a ilha, mas com a decadência e inércia de Lancelot, seu melhor cavaleiro, Artur falha em reconquistar a Britânia para restaurar a paz junto dos poucos cavaleiros que o seguiram, fazendo com que a Inglaterra mergulhasse mais uma vez no caos após a sua morte.
Mesmo com o trágico fim do personagem Artur, sua história é contada até os dias de hoje, seja através de filmes, livros ou jogos eletrônicos. E imortal o rei Artur permanece, ao menos em nosso imaginário coletivo.
O mais importante é justiça. Onde não há justiça, a virtude é suprimida.” – Rei Artur
2 Comentários
Ótimo artigo, bem redigido e didático. Embora conheça a historia, esta nos dá uma versão um pouco diferente. O que é bom. Gostaria de continuar recebendo estes artigos.
Obrigado Artur! = )
Sim, existem diversas formas de interpretar o conto de Artur. As crônicas Arturianas são diversas narrativas que remontam desde o tempo medieval, cada um acaba tendo uma interpretação. Mas o consenso comum é que o grandioso rei era justo e humilde. Gosto muito também do filme “O Primeiro Cavaleiro” com Sean Connery, apesar do filme narrar mais as aventuras de Lancelot do que do próprio Artur.