Título Original: Frankenstein: or The Modern Prometheus
Escritor: Mary Shelley
Tradução: Silvio Antunha
Editora: Principis
Ano: 1818 (Mundo) 2020 (edição brasileira desta análise)
Quando escutamos o nome Frankenstein, a primeira coisa que surge em nossa mente são as imagens de filmes sobre um monstro incompleto e incompreendido que veio ao mundo através de mãos humanas e vive por aí aterrorizando as pessoas.
Mas o quão semelhante são as obras cinematográficas com o conteúdo original do livro escrito por Mary Shelley?
Frankenstein ou O Prometeu Moderno
Em 1818 a escritora Mary Shelley faria história, não somente por vir a se tornar uma escritora de sucesso em uma época em que mulheres eram ainda mais oprimidas, mas também porque traria um assunto polêmico: a criação de uma vida através da ciência, e não através de um ato divino (como era visto a reprodução natural dos seres humanos pela igreja).
A criatura criada em si, no entanto, tem pouco espaço na história, o que pode ser um dos pontos negativos do livro.
Contado de maneira epistolar (como Drácula), Victor Frankenstein é um brilhante cientista que é encontrado nas geleiras do Polo Norte por outro estudioso ambicioso, chamado Robert Walton.
Robert, em expedição para o Polo Norte para fazer nome como grande desbravador e cientista, conta os estranhos acontecimentos narrados por Frankenstein em suas cartas, na qual encaminha de tempos em tempos para a irmã, que reside na Inglaterra.
E aqui é onde está o grande problema do livro, em minha opinião. O Conto centra muito nesses dois personagens de maneira muito narcisista, com ambos os cientistas a todo momentos falando sobre suas “nobres” aspirações e das belezas de suas ricas sociedades Européias.

Um experimento aterrorizante: O Monstro de Frankenstein
Até que chegamos ao momento onde Frankenstein conta sobre seu mais aterrador experimento: uma criatura que ele trouxe à vida misturando diversas partes de corpos desenterrados do cemitério.
Apesar de ansioso em dar vida a um Ser, ao conseguir realizar tal feito extraordinário, Frankenstein fica horrorizado com a forma física desprezível daquilo que criou, deixando a criatura abandonada à própria sorte.
E é aqui que o livro se torna interessante, já que ocorre, em determinado ponto, um diálogo entre criador e criatura.

Nela, o monstro narra sua experiência de existência, nos curto período que andou sobre a Terra. Narra como foi afastado pelas pessoas da sociedade devido a sua aparência.
Em um emocionante monólogo, acompanhamos o monstro enquanto ele observa uma família, na qual um dos integrantes é cego, pensando em como ele vai se aproximar deles para tentar ser aceito como um amigo. Não preciso dizer o quanto isso dá errado.
Cansado de ser odiado, o monstro começa a cometer atrocidades (como assassinatos), mas se encontra com seu criador (Victor Frankenstein) e exige a criação de uma criatura como ele, do sexo oposto, para que ambos possam fugir e deixar a humanidade em paz.
O Dr. até tenta realizar o ato, mas ainda aterrorizado com sua criação anterior, não consegue dar continuidade ao experimento, o que ocasiona no monstro indo atrás de todas as pessoas amadas pelo cientista para assassiná-las, no maior suspense de um conto gótico.
Frankenstein: Livro x Filmes
O livro não conta de fato como ele trouxe a criatura à vida. O uso da eletricidade e do ajudante Igor são apetrechos inventado nos filmes, apesar de que a construção abandonada e isolada também é mencionada no livro, quando Frankenstein tenta criar uma noiva para sua criatura (sim, a noiva de Frankenstein é, de fato, uma ideia preconcebida no conto original!).

O livro é interessante no sentido em que tenta criar uma forte razão para o monstro fazer as atrocidades que faz, assim não trazendo a dualidade (bem X mal) que lemos em tantas obras por aí, mas sim proporcionando um conto onde os personagens tomam decisões baseados em suas ambições e sofrem as consequências desses atos.
Gostaria de recomendar o livro como faço com Drácula e Carmilla (ou seja, para qualquer um), mas infelizmente o livro desperdiça muitas páginas no narcisismo dos personagens principais e, a parte que realmente importa, como a narração do monstro, são poucas.
Ainda assim consigo recomendar este conto gótico do horror para pessoas que gostam do gênero, principalmente dos clássicos, pelas partes de suspense e da filosofia que a grandiosa Mary Shelley nos proporciona.
Uma curiosidade

Em 1815 Lord Byron, famoso poeta e escritor britânico, ficou preso em uma casa por dias com outras pessoas, como John Polidori (médico que viria a escrever O Vampiro, que consequentemente influenciou o conto Carmilla e Drácula) e Mary Shelley.
Para passar o tempo eles liam contos de terror uns para os outros, até que Byron teve a ideia de cada um escrever uma história de horror, o que resultaria na criação de O Vampiro de Polidori e Frankenstein, de Mary Shelley.