Escritora: Anne O’brien Rice
Editora: Ballantine Books
Título Original: Interview with the Vampire
Ano:  1976 (Estados Unidos) – 1994 (Brasil)

Eu sou bem seletivo quando se trata em ler,  jogar ou assistir mídias envolvendo Vampiros. Para quem desconhece, vampiros são um dos temas mais recorrentes nas mídias do entretenimento atual, assim como os Zumbis.

Tive contato com Entrevista com o Vampiro primeiramente pelo filme, quando um colega meu mencionara o mesmo quando comparou a obra com o jogo de tabuleiro Vampiro – A Máscara. Nem preciso dizer que o filme é sensacional, apesar de ter o péssimo ator Tom Cruise nele. Porém, como já é de se esperar, o filme é muito inferior ao livro.

Quanto ao livro… não sei nem por onde começar a descrever esta obra. O livro saiu em português, mas a redação do Café com Leitura leu a versão original do conto pela editora Ballantina Books.

Entrevista com o Vampiro é uma obra hipnotizante

Nunca imaginei que pudesse ficar tão vidrado em um conto. Apesar de Entrevista com o Vampiro se passar em um ambiente moderno (diga-se moderno na época das gravações em fitas cassetes), ao invés de aderir ao estilo contemporâneo (como a grandiosa Buffy – a Caça Vampiros ou o horrendo Crepúsculo) ele toma um linguajar mais clássico, como Drácula.

Louis, o vampiro que está dando a entrevista para um jovem jornalista, sedento por uma matéria quentinha (que no início está um pouco cético em acreditar em vampiros, porém no decorrer do livro começa a acreditar aos poucos) na calada da noite em um quarto pouco mobiliado em Nova York, relembra a época em que foi transformando em Vampiro, o que traz uma grande vantagem ao livro: ele ocorre em diversas épocas.

E essas épocas dão luz a diferentes diálogos de acordo com seus respectivos tempos, como por exemplo quando a escravidão ainda existia e quando os negros começavam a se tornarem homens livres. A escritora Anne Rice é muito criticada em diversos aspectos, entre um deles por tentar fazer o conto do livro parecer muito mais sério filosoficamente do que deveria ser, porém não senti isso em Entrevista com o Vampiro.

A parte filosófica é exatamente grandiosa neste livro porque o merece ser. Ser imortal, se tornar um predador e deixar de ser considerado humano traz um leque enorme para diálogos construtivos, tanto filosóficos quanto sociais. E Anne Rice sabe bem como explorar essa parte. Na versão inglesa, a língua utilizada é clássica, e aumenta ainda mais o teor filosófico da conversa. Os diálogos são progressivos e fluídos, fazendo com que o leitor sinta a tensão em cada troca de palavras entre o Vampiro e o jornalista.

A trama conta com personagens que se contrastam muito um com ou outros

Quando somos levados ao passado no conto é que ficamos hipnotizados na história. O protagonista Louis, mesmo transformado em vampiro, não consegue aceitar sua natureza predatória. No início se contenta em sugar sangue de animais, e mais tarde fica com a consciência pesada em cada humano que mata.

O seu criador, chamado Lestat, por outro lado, é uma vampiro assumido que busca não só alimento no sangue e a morte das pessoas que escolhe como alvo, mas também se contenta em vê-las perder sua força vital aos poucos. Isso causa diversos debates inteligentes que logo tomam proporções maiores quando Lestat transforma uma jovem menina em vampira.

Aqui está outro fator que enriquece o conto, pois os Vampiros retêm sua forma física, porém imortais, suas mentes continuam a amadurecer. A jovem menina Claudia é tão polêmica no livro quanto no filme, interpretada por Kirsten Dunst.

A escritora de Entrevista com o Vampiro, Anne Rice, é uma autora polêmica

Anne Rice é uma autora que busca na polêmica e no simbolismo abordar assuntos que para muitos são desconfortáveis de discutir, seja por conservadorismo político ou religioso. A grande vantagem deste livro é que sendo o protagonista vampiro com uma alma humana, ele pode observar o mundo como um ser a parte.

Sua visão se molda aos poucos, durante os poucos capítulos do livro. O capítulo 1, quando Louis é transformado em vampiro, é centrado na busca de informações sobre o que se tornou, objeto de interesse que seu criador, Lestat, faz pouco caso de explicar e muitas vezes parece até mesmo não saber.

Deus não vivia nesta igreja; essas estátuas eram imagens vazias. Eu era o único ser sobrenatural neste recinto sagrado. Eu era a única coisa imortal que tinha uma consciência abaixo deste teto. Solidão. Solidão a ponto de ficar louco.” – Louis (pág 144)

O segundo capítulo o tom se torna muito mais obscuro, e em termos atmosféricos é meu favorito. Louis e Claudia vão para a Europa, o velho continente, buscar pela origem de sua nova natureza, e aqui o livro se torna uma mistura de horror e aventura de arrepiar a alma, no estilo Drácula de Bram Stoker.

Os dois últimos capítulos são voltados para a descoberta de uma sociedade secreta de vampiros em Paris, quando Louis e Claudia já estavam perdendo as esperanças, achando serem os únicos vampiros existentes no mundo.

O que significa morrer quando se pode viver até o fim do mundo? […]Eu tenho vivido agora por dois séculos[…] sendo eternamente jovem e eternamente ancião.” – Louis (pág 141)

Cada um dos capítulos possui uma tonalidade diferente, porém todos são recheados de debates altamente filosóficos e por vezes sociais, fazendo deste livro uma obra que, na opinião do Café com Leitura, transcende o conto de vampiros, sendo também um drama social forte, com uma pitada de aventura e horror.

Um livro não só para os amantes de vampiros, mas também para quem busca um forte drama filosófico

Entrevista com o Vampiro é uma obra que vai além dos amantes de vampiros ou monstros clássicos; o livro pode ser facilmente apreciado por qualquer um que goste de um drama, suspense, horror ou um conteúdo filosófico e social escrito através da simbologia vampiresca. Sem sombra de dúvidas esta obra de Anne Rice ganhou uma posição de respeito aqui no Café com Leitura!

Curiosidade: no Brasil o livro foi traduzido pela escritora e jornalista ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector.