Roteiro: Robie Morrison
Arte: Trevor Hairsine e Sergio Sandoval
Distribuidora: DC Comics

A Eidos e a Square Enix são renomadas desenvolvedoras de jogos eletrônicos com um grande diferencial: produzem diversas obras canônicas como livros, animações, gibis, etc… que se conectam com o universo dos seus jogos.

É comum outras empresas adaptarem seus produtos base para outros tipos de mídia, mas dificilmente elas se tornam parte do mesmo universo, e assim são considerados Spin-off. Eles são como se fossem um “..e sê acontecesse dessa forma”. Um exemplo é Buffy – a Caça Vampiros, que possui inúmeros livros e gibis com histórias originais, porém somente alguns se passam no mesmo universo que a série.

Este não é o caso de Deus Ex – Human Revolution, jogo de 2011 conhecido por sua jogabilidade de ação e RPG de mundo aberto com uma história bem desenvolvida cheio de pegadas filosóficas e sociais.

Deus Ex Human Revolution Comic Gibi personagens
Assim como no game, Adam Jensen encontra Faridah Malik no gibi também.

O gibi da série (lançada em 6 edições), além de canônico, completa uma parte importante da história do jogo, que são os 6 meses em que o protagonista, Adam Jensen, ficou em recuperação após o assalto que sofre no prólogo do jogo.

O que ocorreu com Adam Jensen durante os 6 meses entre o prólogo e o início do jogo Deus Ex Human Revolution?

Deus Ex nos apresenta uma rica história, onde a humanidade está dando um salto evolutivo sem precedentes. Próteses, de todos os tipos, aparecem no mercado, melhorando as habilidades físicas dos seres humanos.

Essas próteses não são utilizadas somente para recuperar membros ou funções perdidas por pessoas que sofreram acidentes, mas também à pessoas que possuem condições para adquirir um braço ou um olho com mais funções e substituir pelo membro ou órgão original, mesmo que ainda seja funcional.

Esse fator causa diversos problemas sociais; desde quem pode adquirir essas próteses até a perca do trabalho por humanos “inferiores”, que possuem membros somente orgânicos e conseguinte mais limitados. Pode parecer muita ficção científica, mas a maneira como o universo é apresentado é bem próximo da nossa realidade.

Deus Ex Human Revolution gibi Adam Jensen
Adam Jensen humano (esquerda) e transformado após o incidente (direita).

O protagonista do comic (e do game), Adam Jensen, é segurança da Sarif Industries, uma gigante das indústrias de próteses que promete revolucionar o mundo. Apesar do protagonista ser totalmente orgânico, um assalto terrorista à Sarif Industries deixa Jensen quase morto, e só volta a vida depois que a Sarif Industries substitui grande parte do seu corpo por próteses.

Antes do jogo iniciar, após este prólogo um tanto frenético, Adam Jensen passa 6 meses em reabilitação se habituando ao novo corpo, e é nesse contexto que o ocorre a história do Comic que, além de apresentar a adaptação da mudança física, também apresenta o passado do protagonista.

Como Deus Ex Human Revolution se converte em outras mídias?

Assim como o livro Deus Ex – Icarus Effect, o gibi Human Revolution sofre do mesmo mau: a história já está direcionada.

Este detalhe é um fator importante porque no jogo eletrônico somos nós (os jogadores) que tomamos as decisões pelo personagem, e toda escolha em um diálogo ou ação durante um evento mudam o que ocorre em determinado ponto do jogo, ou até mesmo o final dele.

Logicamente esse é o tipo de interação que o livro não oferece. Até é possível, mas não se torna viável ou divertido.

Deus Ex Human Revolution comics do 1 ao 6
As 6 edições do Café com Leitura do comic Deus Ex Human Revolution.

Uma função legal do jogo é que ele sempre oferece uma terceira ou mais vias para solucionar um problema. Ao invés de encontrar a chave da porta, ou destruí-la, você pode procurar por algum duto de ventilação; Ao invés de esperar uma bomba de gás mortal explodir pelo tempo, ou então detonar após o jogador atravessar uma porta e detonar a armadilha, você pode buscar por outros meios de desarmá-la.

Porém a escolha que mais me afeta é poder não matar nenhum inimigo (com exceção dos chefes) e passar o game inteiro se infiltrando furtivamente. E essa é uma possibilidade que não temos neste gibi.

-> Leia também a análise do livro Deus Ex Mankind Divided – Hard Line

Aliás, Adam Jensen é uma máquina de matar no comic, o que tira a personalidade menos violenta dos jogadores que gostam de jogar o game de maneira mais pacífica, mudando completamente o personagem.

São diversas situações onde a violência acaba sendo a única solução, e o banho de sangue surge em excessos no gibi. Infelizmente, a ação, principalmente àquelas carregada de grande violência, sempre foi um chamariz muito grande nos gibis americanos, para captar principalmente o público jovem e Deus Ex, infelizmente, não escapou disso.

Deus Ex Human Revolution HQ coleção Tie In
Conjunto de mídias Tie In do universo Deus Ex do Café com Leitura

Porém, a falta mais grave é sempre a falha de comunicação entre o escritor criativo do game com o escritor do comic. Adam Jensen, após os eventos do prólogo que fazem com que ele tenha grande parte do corpo augumentado, deve pouco a pouco restaurar suas habilidades natas oriundas dessas augumentações ganhando experiência ou adquirindo os Kits Praxis. No entanto, no comic, que se passa antes do capítulo 1 do jogo, Jensen já possui muito dessas habilidades ativadas. Como elas foram desativadas quando iniciamos o capítulo 1 do jogo? Nem mesmo o final do gibi explica…

A HQ de Deus Ex – Human Revolution traz complementos da história do jogo, exibindo o passado complexo e antagônico de Jensen enquanto exibe o protagonista testando suas novas habilidades. Somos apresentados a alguns rostos novos e aprofunda um pouco em seu convívio com personagens importantes do jogo (como Faridah, David e Pritchart). Infelizmente, a ação frenética e violenta tira o holofote dos assuntos mais complexos, transformando este gibi em uma obra complementar e fraca, diferente do jogo que tem uma história realmente impactante em termos sociais e filosóficos.

Por

Escritor, crítico e redator aficionado por livros e jogos eletrônicos. Conhecido como Veritas Volpe no ambiente artístico e literário.

Escreva um comentário