Autor: Ben Pastor
Distribuidora: Record
Tradução: Celina Cavalcante Falck-Cook
Título Original: La voce del fuoco (Itália)
Ano: 2011

Ben Pastor é uma autora que busca em assuntos polêmicos uma boa história. Não sei se a escritora faz isso com o intuito de somente vender mais ou se realmente faz para produzir um bom conteúdo em uma perspectiva diferente do convencional social. Entre Martin Bora, um oficial nazista que atua como detetive, ao império romano, a autora traz mais uma aventura nas mãos do historiador Aélio Espartano a serviço do imperador da antiga Roma de 304 d.c, intitulado de “O Atiçador de Fogo”. 

Se você gosta de um bom mistério ao estilo Sherlock Holmes e acha interessante o império Romano, então prepare o seu café, que este livro não vai desaponta-lo!

O Atiçador de Fogo precede diretamente a aventura do livro anterior, “O Ladrão da Água”

O ano é 304 d.c e o poder em Roma está dividido na mão de tetracas: Diocleciano, Constâncio, Galério e Maximiano. Assim como a aventura anterior de Aélio Espartano, a história é envolto de uma misteriosa morte, porém neste o deificado volta a vida. Ao que tudo indica graças a um curandeiro cristão que, nesta época, estavam sendo perseguidos e assassinados praticamente sem provas de crimes pelos romanos.

O cenário é incrivelmente detalhado e o leitor mergulha para dentro da antiga Roma já nas primeiras páginas. As localizações, os nomes das cidades (que carregam o nome da época), os costumes, comidas e até festivais são escritos de maneira tão detalhada e de fácil leitura que tendem a ainda mais aumentar a ambientação que “O Ladrão da Água” já havia conquistado. Assim como sua aventura predecessora, Aélio escreve e recebe cartas em papiro, que foram impressas em texto itálico no livro, na qual aumenta ainda mais a atmosfera e o clima do antigo império romano.

No topo superior esquerdo está a escrita normal do livro. No entanto, quando Aélio escreve uma carta ou realiza alguma anotação em papiro, o texto fica em itálico, como podemos ver logo a baixo.

Os personagens são muito interessantes e, como já era de se esperar da escritora, seguem bem seus papéis, não se prendendo aos conceitos de virtudes instaurados na sociedade atual. Os personagens são apresentados com o que acham certo diante da época em que vivem, o que pode ser um pouco polêmico. A autora cria as personalidades destes personagens sem transforma-los em “vilões”, como estamos habituados em tantas obras Norte Americanas que apenas vulgarizam personagens para suavizar a eliminação do mesmo quando este se vê contra as ideias do protagonista ou da nação.

O fato mencionado a cima deixa o livro ainda mais interessante pois, apesar de ser em grande parte voltada para o mistério, tenta trazer diversos debates atuais na mentalidade da época, como a intolerância religiosa, o conservadorismo político e “excepcionalismo nacional”. A autora consegue realizar esta tarefa com maestria, deixando o próprio mistério da história ainda mais interessante!

Mas e quais são os pontos negativos de O Atiçador de Fogo?

Nem tudo são flores no livro de Pastor. As primeiras 150 páginas são longas e maçantes. Proporcionam momentos interessantes aqui e ali, como também explicam alguns momentos cruciais para a desenvoltura da história, mas pouco faz para manter o leitor realmente preso. Alguns encontros que Aélio tem com alguns personagens me pareceram um tanto desnecessários, como por exemplo o médico que explica como o deificado ressuscitado havia falecido. Este mesmo médico consta na lista de personagens principais, porém simplesmente some depois das primeiras páginas do livro!

Nas primeiras páginas, o leitor tem uma lista dos principais personagens do livro, caso venha a esquecer de algum deles caso os mesmos se ausentem durante um longo período.

No entanto, outros encontros que Aélio tem com os diversos personagens da história se mostram deveras interessante, como é o caso de Ben Matias, também presente nos outros livros do historiador Romano. O Judeu que já foi inimigo e é, atualmente, amigo do protagonista, traz diversas conversas enigmáticas e de cunho político em torno da antiga Roma de 304 d.c.

Outro ponto negativo que ocorre mais para o final do livro são os erros gramaticais e de tempo verbal. Nada que estrague o livro, mas é facilmente notável. Agora, não sei dizer se foi erro da escritora ou de tradução, que é comum de acontecer e nada condenável, logicamente.

O que me deixou mais impressionado neste livro foram as páginas finais. E quando digo isso, me refiro as últimas 100 (ou seja, um bom pedaço!). Ocorrem diversos acontecimentos não esperados, alguns bem impressionantes, “Plot Twists”, além de diálogos cruciais e perigos de tirar o fôlego. Aélio Espartano que o diga!

Se assim com eu, você possui fascinação pelo império romano e gosta de mistérios ao estilo Artur Conan Doyle ou Agatha Cristie, O livro “O Atiçador de Fogo” é a escolha certa. Apesar de maçante no início e algumas inconsistências gramaticais leves, o livro traz um mistério difícil, inteligente, intrigante e coloca na mesa temas polêmicos (apesar de não focar neles) e personagens não convencionais. Este é um livro de mistério na roma antiga que vale a pena ler, além de ser muito melhor que seu antecessor, O Ladrão da Água.

As duas aventuras de Aélio Espartano trazidos para o Brasil da autora Ben Pastor pela editora Record: “O Ladrão da Água” e “O Atiçador de Fogo”.

Curiosidades: Além destes dois livros, há outras duas aventuras que precedem estas história com o protagonista Aélio Espartano que, infelizmente, nunca saíram da Itália. Caso queiram pesquisar, os nomes são:

  • Le Vergini di Pietra
  • La traccia del vento

 

Por

Escritor, crítico e redator aficionado por livros e jogos eletrônicos. Conhecido como Veritas Volpe no ambiente artístico e literário.

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