Escritor: Noenio Spinola
Editora: Mandarim
Ano: 2000

Dante Alighieri, poeta da Seculo XIII, é um dos personagens reais mais utilizados em obras de ficção dos últimos tempos. Apesar de diversas obras, todos o reconhecem por sua altamente cultuada Divina Comedia. Se você desconhece o grande poeta, vá ler Inferno (de Dan Brown) ou A Cruzada das Trevas (de Giulio Leoni), jogar Dantes Inferno no Playstation 3 ou aprecie os inúmeros quadros realizados em homenagem ao autor por pintores famosos.

Noenio Spinola, o autor do livro Dante Alighieri visita A Comedia Paulistana é um escritor e jornalista e, talvez com esta obra, um pouco poeta também. Assim como seus outros livros,  a grandiosa e única cidade de São Paulo é o palco deste conto repleto de referências à Divina Comedia de Dante, com alegorias e situações politicas brasileiras.

Midias em que Dante Alighieri já foi referência
Dante Alighieri é um dos escritores mais influentes do mundo. Já protagonizou (ou foi o assunto) em diversos livros e já ganhou um jogo próprio.

O conto narra uma corrupção politica (que fica praticamente em segundo plano) nos olhos de personagens a lá Bukowski criados por Spinola. Ao invés de grandes heróis e deuses fictícios, temos personagens mais reais; um engenheiro acima do peso, uma mãe pobre de 3 filhos, um estucador de obras que mora em uma favela. Personagens que compõem a verdadeira cidade de São Paulo.

O autor nos traz a visão da corrupção política nos olhos de quem está por baixo da camada econômica da sociedade. O que fazem diante daquilo que descobriram? E para onde desabafam quando a pressão é de mais? O mais interessante do livro é que o protagonista narra sua história em um computador conectado a uma tela TRC (os monitores tubos) para um usuário anônimo em uma sala de bate papo da Uol. Sim, os bons anos 2000!

Antigas salas de Bate-Papo Uol
As antigas salas de bate-papo Uol são um elemento constante em Dante Alighieri Visita a Comédia Paulistana.

Este usuário anônimo, hora trapezista, hora Virgílio, hora Beatriz, lê com atenção o conto do engenheiro, e tenta fazer com que o mesmo enxergue os verdadeiros motivos das ações que realizou durante a história. O conto é hipnótico, e os diálogos muito interessantes. Em vista de que envolve o antigo Poeta, o leitor tem que ter um mínimo conhecimento sobre as artes e autores da época do renascimento e da idade media para conseguir entender algumas das referências jogadas no livro.

Porem devo dizer que Spinola, mesmo trazendo um mar de cultura para dentro de Dante Alighieri visita a Comedia Paulistana, conseguiu realizar um livro simples para leitura, como J.K. Rowling fez com os complexos assuntos em Harry Potter. Se compararmos, por exemplo, o livro “O incrível caso do Morto-Vivo“, uma historia original de Roberto França, nos mesmos moldes que o livro desta análise, porem que utiliza um português muito avançado, temos a sensação de um livro interessante porém maçante, quase cientificamente. Já Dante Alighieri visita a Comedia Paulistana é fácil e divertido de ler, e mesmo assim consegue jogar alguns assuntos e termos complexos.

Estátua do poeta autor da A Divina Comédia
Estátua do poeta Dante Alighieri, na qual faz uma aparição metafórica mais para o final do livro.

Além disso, Dante Alighieri visita a Comedia Paulistana possui ação, situações engraçadas e um romance improvável. É uma historia muito triste por vezes também. Spinola chega a comparar nosso sistema de corrupção e sua passividade com a dos Norte Americanos, porem elogiando o sistema capitalista dos gringos, sugerindo que por lá existe um certo limite, o que, particularmente, acho difícil de acreditar.

Não é difícil recomendar esta obra meus queridos leitores, principalmente para quem busca um livro de cunho social e filosófico, cheio de analogias. Seu início pode ser lento, mas logo a sala de bate papo da UOL ganha vida e uma história repleta de perigos e personagens reais dão cores ao livro.

 

Por

Escritor, crítico e redator aficionado por livros e jogos eletrônicos. Conhecido como Veritas Volpe no ambiente artístico e literário.

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