Autor: Allan Massie
Tradução: Maria Elizabeth Hallak Neilson
Editora: Ediouro
Ano: 2009 (Brasil), 2007 (Mundial)
Carlos Magno é um personagem verídico famoso na história da humanidade, mas que possui sua fama um pouco ofuscada pela história de personagens pertencentes a países seculares de maior fama na literatura mundial, como por exemplo os protagonistas italianos e ingleses. O autor escocês Allan Massie resolveu trazer Carlos Magno, o rei dos francos, em um de seus romances protagonizado pelo filósofo Michael Scott enquanto o mesmo narra a história de grandes personagens ao futuro imperador do império romano-germânico, Frederico II.
Apesar da ofuscação, Carlos Magno já apareceu em diversas obras fictícias, como é o caso do jogo Eternal Darkness da Nintendo. Conhecido pelos franceses como Charlemagne, foi um fervoroso rei cristão que combateu duramente os saxões e os sarracenos que na época eram denominado de infiéis por crer em outra doutrina religiosa. No entanto, também ficou conhecido pelos atos que seu sobrinho Rolando-Orlando, imortalizado nas canções durante a idade medieval, realizou em nome de seu reino.
Carlos Magno é uma biografia romantizada
O início do livro pode ser um pouco maçante, já que somos introduzidos a uma biografia dos personagens que sucederão nos acontecimentos verídicos ao longo da história. Essas biografias são narradas de maneira romantizada e são curtas, fazendo com que a história alcance o seu devido paço no primeiro terço do livro. Durante os anos de juventude, amadurecimento para a vida adulta e velhice de ambos os protagonistas (Carlos Magno e Rolando), por vezes intermitente somos trazidos para o futuro (meados de A.D 1225) onde o narrador Scott instrui Frederico II sobre os acontecimentos.

Frederico II, ainda criança, nunca tem voz ativa. O que temos é sempre Michael Scott se dirigindo para ele, utilizando frases como “Por quê você me olha desta maneira, meu príncipe?” e frases similares. Acrescenta algumas situações desnecessárias, porém engraçadas e que podem relaxar o leitor na narrativa romantizada dos acontecimentos antigos que por vezes podem estagnar a leitura. No entanto, é difícil negar que o livro se torna, em partes, maçante. Quando ocorrem os grandes acontecimentos, como os diálogos diplomáticos e as imensuráveis guerras, são contados com todas suas intrigas e personagens, de maneira muitas vezes resumida, o que entrega um prazeroso tempo de leitura sem prolongar-se por de mais. No entanto, outras seções, como os romances por exemplo, se prolongam por de mais, e não adicionam tanta atmosfera, mesmo sendo narrado de maneira romantizada os acontecimentos verídicos. No geral o livro carrega uma boa direção de leitura, mas é inegável ficar maçante por vezes.
Porém, se este livro tem um forte (que mesmo em suas poucas 255 páginas possui), são as diversas frases memoráveis. Algumas delas são grandiosas mesmo se o leitor não estiver dentro do contexto. Esta é uma qualidade forte aparente em Allan Massie.

Se você, ávido leitor, não busca este livro como uma fonte histórica para conhecer mais os personagens reais daquela época, pode também ter uma prazerosa leitura romantizada, com aventuras, intrigas e romances. No entanto, saiba que o mercado oferecer muitas obras medievais melhores para este propósito. Amizade e amor são dois temas fortes na narração de Scott idealizado por Massie. Como é natural daquela época, a religião cristã possui um papel fundamental nesta história, levando em consideração o personagem principal do livro, Carlos Magno. No entanto, Michael Scott, sendo, tanto na ficção quando na vida real, um árduo viajante que conheceu muitas culturas e religiões, não trata o islamismo com perjúrio e preconceito encontrado em escritores conservadores, (que, estranhamente, é o caso de Allan Massie, o escritor deste livro). Uma paz universal é o que reina no coração de Scott no romance, a mesma ideologia que tenta embutir em, ainda criança, futuro imperador romano germânico e rei da Itália, Frederico II.
A retratação do livro em relação a idade medieval é boa, transportando o leitor para o cenário da época. Os antigos castelos circulados por águas, as grandes florestas romantizadas como nos contos e filmes de Robin Hood, os reis das mais diversas culturas, estão todos lá. Porém, o que deixa a atmosfera ainda mais próxima da época são os comportamentos da época narrada pelo ator. Os jogos medievais, os relacionamentos homosexuais entre companheiro de armas cristãos, os bispos que pregavam a paz e lutavam como monges nas guerras também estão presentes.
Carlos Magno, como mencionado no início, faz parte de uma coletânea de livros que tenta seguir o estilo de 1808, escrito por Laurentino Gomes aqui no Brasil. Pega os acontecimentos reais da história da humanidade e romantiza para deixar em uma linguagem mais simples e prazerosa, ao invés de ser técnica. É claro que, em todo livro romantizado, devemos ficar cientes que possam haver inconsistências ou partes fictícias não comprovadas por historiadores. Assim como o livro “Carlos Magno”, Allan Massie escreveu mais dois livros onde Michael Scott narra a aventura de outros dois grandes personagens da história para Frederico II, sendo eles “Caesar” e “Rei Arthur”.
Allan Massie realizou um bom trabalho em Carlos Magno; é um livro resumido, informativo e prazeroso de se ler, apesar de por vezes, maçante. No entanto, ainda recomendo mais para aqueles leitores que desejam conhecer mais sobre Carlos Magno e Rolando, personagens existentes da história, e os acontecimentos que presenciaram, do que para o leitor que busca um bom livro de aventura medieval. Existem outros livros melhores no mercado para se desfrutar de uma boa aventura Medieval fictícia.
Frases do Livro
[…] e obediência sem discussão constitui a essência da fé. Então torno a ordenar…” – Anjo para Carlos Magno – pag 23
Não faça nenhuma pergunta e não lhe contarão nenhuma mentira…” – Alberico para Carlos – pag 30
O amor é um termo inexistente no vocabulário político.” – Benoni para Rolando – pag 113
[…] se vamos escapar deste desolador cenário de injustiça, se vamos nos erguer do abismo livrando-nos da lama que nos cobre, precisamos inicialmente, nos despir da vaidade.” – Michell Scott para Frederico II – pag 220
“Nossos sucessos devem-se aos nossos próprios méritos, mas o fracasso raramente é culpa nossa.” – sarcasmo mencionado na pag 228
“[…] existe o que denomino conhecimento da perspicácia, o que alguns preferem se referir como conhecimento da imaginação. Se não uso este termo é por que a imaginação é com desmensurada frequência considerada uma faculdade mental ociosa, a nada superior à fantasia ou aos devaneios. Entretanto, o conhecimento da perspicácia é aquele que nos é revelado pela imaginação em uma operação ativa, empregada como ferramenta para desvendar os segredos de nossa natureza interior. Portanto, é devido ao exercício desta habilidade, capaz de atravessar o véu da carne e penetrar na parte mais intima de outro ser humano, que me torno apto a revelar a você o que o rei pensava em relação a Alory.” – Michaell Scott à Frederico II – pag 47
Nota do redator: o que Massie coloca nas palavras ditas por Scott é a importância de empregar a imaginação para entender uma situação gravada na história, mas sem muitos indícios de comprovação. No entanto, deve-se sempre tomar cuidado, já que alguns livros aludem de mais determinados personagens da história devido a inclinações políticas e religiosas.