Escritor: Boileau-Narcejac
Criador original: Maurice Leblanc
Editora: Nova Fronteira
Tradução: Paulo de Medeiros e Albuquerque
Ano: 1973 (Mundo), 1975 (Brasil, Nova Fronteira)
No passado era assim… Inglaterra com Sherlock Holmes e França com Arsène Lupin. Rivais de época, inclusive com os personagens já se confrontado em algumas histórias de Arsène Lupin por Leblanc, e no jogo eletrônico de 2007 “Sherlock Holmes Nemesis” (da qual, diferente dos livros, toma o lado do detetive, e não do ladrão), contrasta bem a mentalidade de ambos os países da época. A Inglaterra, governada pela realeza mão de ferro, fazendo valer a justiça… ou melhor, impondo e fiscalizando regras; e a França, que transitou por diversos movimentos artísticos e crises com as famílias reais, possuindo um espirito liberto e mentalidade antiburguesa.

Apesar de ser fã de carteirinha do famoso detetive londrino, pouca atenção dei ao ladrão de múltiplas personalidades Lupin. Lembro de ouvir por diversas vezes sobre o personagem dos infames livros escritos por Maurice Leblanc onde o mesmo enfrenta Sherlock Holmes. Foi com o objetivo de conhecer melhor este personagem, rival de Sherlock Holmes e que atua do outro lado da justiça, que resolvi adquirir os seguintes 4 livros do Ladrão:
- O Paiol de Pólvora
- A Vingança de Cagliostro
- Contra Herlock Sholmes (sim, é o detetive mesmo, devido a direitos autorais, tiveram de alterar o nome!)
- O Segredo de Eunerville
Comecei pelo “O Segredo de Eunerville” e, somente após terminar o livro, tive o conhecimento que esta obra não foi realizada pelo criador do personagem, Maurice Leblanc, mas sim por um dos escritores oficiais que ganharam o direito de continuar as histórias do infame ladrão. O nome do escritor desta história é Boileau-Narcejac, também francês, e realizou um bom trabalho!

O Ladrão de várias Personas
Sendo um amante das artes por natureza, o herói Lupin (se pronuncia Lupãn) encontra um castelo que possui uma longa história com a aristocracia francesa, e que em uma de suas alas se encontram incontáveis obras de arte, que logo captam a atenção do ladrão. Criando diversas personas para se aproximar das obras e conseguir roubá-las, Lupin não desconfia que ele não é o único com interesse pela mansão e seus segredos. Ao se aproximar da família, detentora da propriedade, logo o coração de Lupin é roubado pela linda jovem chamada Lucile, e descobre que sua vida (e das pessoas do castelo) corre perigo.
Em “O Segredo de Eunerville“, Lupin não só bate com a polícia (e o inspetor Ganimard), como também enfrenta um inimigo que parece estar a sua altura. Devo dizer que a atmosfera do livro é forte! No início, somos jogados logo de cara em uma torre, no meio da noite, enquanto Lupin e Bruno, um jovem ajudante, vigiam o velho castelo. O livro possui diversas partes na qual Lupin realiza rondas e busca por passagens secretas na mansão, além de se passar, em grande parte, durante a noite, construindo um ótimo suspense que eu, sinceramente, não estava esperando deste livro.

No entanto, sendo novato nas histórias de Leblanc… ou melhor, Boiuleau, devo admitir que me senti perdido algumas vezes no livro, porém isso não foi uma experiência ruim. Arsène Lupin se transforma em diversas personas para chegar ao seus objetivos, como o barão Raul D’Apignac ou o jornalista Dumont. Quando o leitor descobre que alguma persona passageira é, de fato, Lupin, é difícil conter um sorriso ou não ficar levemente surpreso. As mudanças podem ser repentinas por vezes, mas nada que atrapalhe a leitura. Outro ponto positivo é que a história é centrada em uma dezena de personagens, e seus nomes sempre surgem de tempos em tempos, sem muitos intervalos, não deixando o leitor perdido em “quem é quem?“, como ocorrem em livros que tentam jogar diversos personagens em temas desnecessariamente complexos.
Os diálogos são maravilhosos! As conversas são muito descontraídas e bem diferentes, mesmo com a versão datada e o português arcaico da Editora Nova Fronteira. Infelizmente, erros de digitação e gramaticais são muito frequentes no livro, principalmente da metade em diante, sendo difíceis não notá-los e ficar distraído por isso.

Apesar de não ser uma obra do escritor original do personagem, gostei muito da história de Arsène Lupin e o Segredo de Eunerville escrito por Boileau, mesmo que no início do conto possa ter achado o livro um pouco tedioso, por ainda não estar acostumado ao personagem e a narrativa de suas múltiplas personas. Mesmo tendo gostado muito da 1° aventura do ladrão em que tive a oportunidade de ler, ainda recomendo esta história mais para quem gosta de um bom mistério ou que já conhece o ladrão do que para novos entusiastas.