Análise – Vagabond edição de luxo 2

Escritor: Eiji Yoshikawa
Desenhista e Adaptação: Takehiko Inoue
Ano: 2005
Editora: Conrad Livros
Tradutora: Dirce Miyamura

A 2° edição de luxo da Conrad do manga Vagabond traz os capítulos 11 ao 21, dando continuidade ao Volume 1 do conto do mais conhecido samurai do Japão, Miyamoto Musashi.

Se você não leu nossa análise do 1° volume, clique aqui!

Desta vez o leitor é puxado do ambiente selvagem para uma vila rural populada por muitos personagens. Porém os primeiros capítulos da segunda edição ainda ficam voltados em questões de sobrevivência, enquanto Miyamoto (ainda chamado de Takezo), agora separado de seu amigo Matahachi, se encontra como fugitivo da vila Miyamoto, sendo perseguido por samurais (por ser considerado um desertor) e pelos aldeões, que se encontram forçados a ajudar o exército nesta empreitada.

Aqui somos introduzidos ao personagem que foi o estopim para a mudança de Takezo, o Monge Takuan. É quando este personagem surge no final do capítulo 11, que somos bombardeados com diálogos inteligentes e filosóficos. Começa aqui um novo capítulo na vida de Takezo.
Takuan, monge budista baseado em um personagem real nascido em 1573, traz o verdadeiro diálogo entre o homem consciente com o homem animal, na qual é o estado que Takezo (futuro Miyamoto Musashi) se encontra.

Os personagens são amplamente explorados em Vagabond edição de luxo 2

O Volume dois deste mangá é poderoso. O leitor se vê deparado com Otsu tendo que enfrentar o abandono de seu ex-futuro exposo Matahachi, Osugi entra em um estado de raiva cega pela suposta perda do filho e Takezo começa a encarar os seus atos, tendo de enfrentar as memórias de todas as pessoas que matou e feriu. Também é neste volume que Takezo começa a lembrar de seu passado, assim ligando os pontos e compreendendo o por quê se tornou a pessoa que é.

Enquanto que no volume 1 de Vagabond somos somente introduzidos rapidamente ao passado de Takezo, em Vagabond edição de luxo 2 temos mais contato com o jovem rebelde, e o seu passado tem muito a dizer. Em questões sociais, somos jogados para uma realidade não muito longe do que vivenciamos no Brasil. O que torna os jovens em delinquentes tão cedo e por quê nosso sistema penal atual não os traz reestruturados (muitas vezes os traz ainda mais agressivos) para viver em sociedade? O mangá Vagabond também entra nessas questões, porém em um tempo mais antigo.

Em Vagabond edição de luxo 2, o protagonista começa a criar ciência de seus atos

A partir do capítulo 17, ficamos presos por diversas páginas à frente em cenas onde o futuro samurai fica preso e suspenso em uma grande árvore pelo monge Takuan. Ao invés de batalhas somos levados ao universo filosófico da culpa e da criação da consciência, realizado de forma excepcional pelo mangaka Inoue. Desabrigado, com fome e cede, sem ter o que fazer além de pensar, somos levados aos pensamentos e memórias daquele que um dia se tornaria o maior samurai de todos. No fim, a imortal figura de Miyamoto Musashi, não passa de um simples humano como o próprio leitor ou criador do mangá.

É nessa parte que se torna difícil não ficar encantado com a personalidade da personagem Otsu. Takuan e Otsu, nos próximos capítulos deste manga, não serão personagens tão pressentes, mas serão sempre importantes e recorrentes nas lembranças de Takezo. O capítulo 21 (último da volume 2) dispensa palavras. Aqui começa um novo capítulo na vida de Takezo, que no próximo volume já se chamaria Miyamoto Musashi, o maior samurai que o Japão já conheceu.

Vagabond edição de luxo 2 é um dos melhores da Saga Vagabond. Saímos de um clima de sobrevivência animal para a criação da consciência, e onde personagens apresentados anteriormente são amplamente explorados e os assuntos abordados são tão fortes que podemos aplicar à situações até hoje pertinentes. Vagabond volume 2 tem que ser, em partes, acompanhado pelo volume 1, no entanto não deve ser lido somente por quem gosta de mangás, mas para qualquer um que se interesse em ampliar seus conceitos de filosofia e sociologia atravéss de um divertido e emotivo manga.

Obs: Alguém aí já assistiu Laranja Mecânica?  Talvez você consiga associar alguns pontos…