Escritora: Agatha Christie
Tradução: Otavio Albuquerque
Editora: L&PM Pocket
Ano: 1932 (conto original), 2011 (Editora)
Título Original: Peril at The End House
A Casa do Penhasco é um conto conhecido de Christie lá fora, porém no Brasil não é muito comentado. Sendo mais uma aventura protagonizada por Hercule Poirot, a história possui alguns traços similares a “Cai o Pano” onde o detetive belga já não se vê atuando profissionalmente. O início, enquanto Poirot e seu amigo capitão Hastings estão de férias no Hotel Majestic, o famoso detetive da entender por diversas vezes que se encontra aposentado, até mesmo negando um pedido de ajuda do ministro do interior inglês.
No entanto, esta suposta desistência fica somente nos dois primeiros capítulos, ao invés de tomar um rumo mais obscuro. Poirot parece ser consideravelmente mais novo também nesta história, onde no já mencionado Cai o Pano se encontra em idade mais avançada e doente.
A Casa do Penhasco é um mistério com uma atmosfera tranquila
A Casa do Penhasco possui uma atmosfera muito gostosa de se ler, com cenários lindos banhados de mar e areia. A Casa do Penhasco (não o título do livro, mas sim a casa em questão), mesmo sendo rústica, também apresenta uma atmosfera tranquila. Nick Buckley, a dona da casa em questão, está correndo um risco de vida, mas sendo jovem, parece não perceber e encara tudo como “infortúnios acidentes”. É Poirot que percebe algo de errado e avisa a moça sobre o que pode estar ocorrendo atrás dos panos.

O que mais gostei de A Casa do Penhasco, além do ambiente, é como Poirot se encontra perdido na primeira metade do livro. Este é mais um desses contos de Christie que nos surpreende no final. Logicamente, não chega ao nível de Assassinato no Expresso do Oriente ou em E não sobrou nenhum, mas é uma trama genial envolvendo o detetive Belga. A Casa do Penhasco também possui alguns dos diálogos mais engraçados que já li nas obras da autora, apesar de ser necessário conhecer um pouco da personalidade e peculiaridades de Poirot, assim recomendando esta obra da Rainha do Crime para quem já tem uma familiaridade maior com o personagem através de outros contos.
Os suspeitos são personagens muito humanos, cuidadosamente característicos através das palavras escritas da autora. É difícil não gostar, ou não odiar alguns deles. A personalidade de cada integrante da história é tão forte, que o capitão Hastings acaba se apegando a alguns deles, o que acaba gerando alguns desentendimentos com o detetive belga.

A vítima é, sem sombra de dúvidas, uma das mais interessantes personagens. Agatha Christie é uma autora presa em seu tempo, e acaba relacionando muito de suas personagens com os conceitos machistas da época (como a mulher indefesa), diferente da autora Virginia Woolf que abordava mais a direção feminista. Nick Buckley é uma personagem livre, apaixonada e independente. Seus amigos são todos interessantes também. Desde o comandante Challenger, pela qual está apaixonado por Nick, até a sua melhor amiga, Frederica Rice.
A Casa do Penhasco possui muitas referências reais
A Casa do Penhasco é um conto rico não só por sua ótima trama, na qual não iremos dar Spoilers aqui caso você ainda não tenha lido o livro, mas também pelos detalhes. Diversos casos antigos de Poirot são mencionados aqui, porém não é preciso ter um conhecimento prévio deles, porém se o leitor conhece, poderá ter momentos divertidos e interessantes. Além disso, algumas localizações e situações são reais, como por exemplo, o próprio hotel Majestic, na qual foi baseado no hotel Imperial, em Toquay (cidade inglesa) e um dos personagens, o piloto de avião Michael Seton, é uma alusão à piloto Amy Johnson.

Porém, mesmo com a forte e diferente trama, não pude deixar de sentir um pouco de desapontamento no final do livro. Não me entenda mal, é realmente um desses surpreendente, mas por alguma razão muito conveniente. Ele é desses livros que possui diversos finais, então o leitor pode ficar satisfeito, com pelo menos um deles.
A Casa do Penhasco é altamente recomendado! Não chega ao mesmo nível de contos como O Assassinato no Expresso do Oriente e E Não Sobrou Nenhum, porém fica lado a lado com A Casa Torta, outro conto surpreendente da autora Agatha Christie.