Escritor: Charles Bukowski
Editora: L&PM Pocket
Tradução: Pedro Gonzaga
Ano: 1971 (Mundo), 2001 (Brasil, LPM)
Bukowski é até hoje um escritor difícil de catalogar. Com sua linguagem crua, vulgar e contemporânea, personagens humanos mais próximos da realidade com situações cotidianas e pessimistas, Cartas na Rua é mais um romance forte de Bukowski para envolver o leitor no negativismo do mundo sugerido pelo autor.
Utilizando seu alter ego Henry Chinaski, Cartas na Rua é um conto tão deprimente quanto suas outras obras, como Misto Quente por exemplo. Porém, mesmo para Bukowski, este livro traz alguma luz no positivismo para a realidade nua e crua dos personagens do livro. Não no mesmo nível histérico que foi Hollywood, outra grande obra do autor. Ao invés disso, Bukowski traz momentos de felicidades sentimentais à outro humano de maneira alienígena para o autor, como quando o personagem narra o nascimento de sua filha com sua namorada Fay, por exemplo.
“A velha garota era simplesmente mais uma criatura solitária em um mundo indiferente a todos nós” – Pensamento de Chinaski, pág. 148 (12)
Chinaski, o eterno protagonista dos romances do autor, narra sua vida como funcionários dos correios, durante os muitos anos que trabalhou na instituição. Muito mais do que uma simples narração de seu tempo no correios, o que Chinaski faz é, de certa forma, narrar a vida de todo trabalhador Norte Americano dos anos 50. As longas jornadas de trabalho que beiravam a escravismo, a falta de respeito ao próximo, os abusos e preconceitos contra negros e mulheres. Porém, como em suas outras obras, Cartas na Rua não se torna pesado, em grande parte devido sua língua vulgar e situações histéricas. Isso torna o livro engraçado e divertido, ao mesmo tempo que traz a tona reflexões que são, até hoje, importantes e cruciais.
Cartas na Rua já trazia problemas sociais contemporâneos
Assim como seus outros livros, Bukowski fala dos seus relacionamentos passageiros e sem compromissos, cheio de situações histéricas e, como de praxe para época, machistas. Porém parece que essa visão se limita mais ao personagem, que não consegue enxergar um outro homem tomando as mesmas atitudes machistas em relação às mulheres. Muitas vezes, inclusive, utilizando essas situações como uma crítica para como o mundo já tratava o sexo feminino que, infelizmente, até os tempos atuais, se veem obrigadas a lutar por direitos iguais em uma sociedade completamente voltada para o homem, tanto no âmbito econômico, religioso ou qualquer aspecto que a sociedade contemporânea esteja inserida.
Um assunto comum entre os fãs do escritor é se Bukowski é um escritor Beat, por utilizar as técnicas mencionadas acima, como a linguagem vulgar e as situações cotidianas, utilizando como personagens trabalhadores, viúvas, prostitutas, etc. Eu diria que não. Escritores Beat como Jack Kerouac e Gregory Corso são conhecidos por escrevem situações histéricas, com acontecimentos de suas próprias vidas desapegadas, como Bukowski fez. No entanto Bukowski era escritor. Além das críticas e das sátiras inteligentes, escrevia seus textos de maneira regular e aplicava bem o uso da língua inglesa. Talvez seja pela vulgaridade no uso da língua e das situações que os personagens se encontram que muitos o consideram erroneamente um escritor Beat.
Charles Bukowski é um escritor único, pois continua contemporâneo e sempre esteve à frente de seu tempo. Ao invés de utilizar uma narração romantizada, resolveu escrever o que as pessoas, de carne e osso, realmente viviam e vivem até hoje. Substituiu os heróis por pessoas comuns. E, como Cartas nas Rua, Misto quente e Hollywood provaram, deu muito certo!
Obs: se você não está acostumado com livros de linguagem vulgar, como os empregados por Bukowski, dê uma chance! Pode ser uma obra libertadora.