Escritor: Markus Zusak
Tradução: Vera Ribeiro
Editora: Intrínseca
Título Original:
The Book Thief
Ano: 2005 (Mundo), 2010 (Brasil – 2° Edição)

É difícil começar uma análise do livro A Menina que Roubava Livros escrito pelo australiano Markus Zusak, um conto tão único e belo que logo se tornou um Best-Seller. Não é somente a originalidade da história que chama a atenção, ou os momentos de aflição que a mídia tanto gosta de sensacionalizar quando retrata os terrores do nazismo, mas também pela quebra de estereótipos e a visão de um lado que muitas obras deixam de lado, ou demonstram de forma pejorativa; os alemães não nazistas.

Mas é claro que a originalidade pega o leitor de jeito. Como não ficar surpreendido com um conto narrado pela morte, a Grim Reaper, a ceifadora, ou qualquer outro nome que você já não tenha ouvido daquele ser sobrenatural encarregado de levar as almas dos seres humanos deste mundo físico?
E como não ficar mais impressionado ao saber que a morte, vista de maneira cinza e horrenda, adora ilustrar as cores do céu mundano para dar cor ao livro, antes acinzentado pelo domínio nazista?

A morte, apesar de não ser a protagonista do livro, acompanha a personagem principal que se encontra oprimida por um país e protegida pelos pais adotivos em tempos incerto. Essa é Liesel Meminger.

Atriz Sophie Nélisse interpretou Liesel no filme A Menina que Roubava Livros
A Menina que Roubava Livros virou filme, onde Liesel é interpretada pela atriz Sophie Nélisse.

O livro traz similaridades com o filme O Pianista

Devanear nos horrores do nazismo já me parece tão clichê que, mesmo com o impacto duradouro que este sistema extremamente racista, com resquícios de extrema direita (como o eugenismo, por exemplo), parece não ter fim no criativo midiático. Já temos nazistas em tantos jogos eletrônicos (até zumbis!) e filmes que me pergunto se não é ela mesma (a mídia) a propagar o ideal neonazista tão crescente nos E.U.A e outros tantos lugares do ocidente.



Porém, em a Menina que Roubava livros, o que temos é um conto que mostra outro lado. Aquela da população miserável, que cai em olhos cegos e ouvidos surdos da mesma maneira como a camada mais pobre, para não dizer miserável, do Brasil. O que encontramos são personagens, como os pais adotivos de Liesel, completamente ignorantes aos acontecimentos maiores, lutando para sobreviver em uma Alemanha totalmente centralizada e, mesmo assim, se esforçando para praticar o bem, mesmo com as pregações ridículas do Nazismo.

Meu querido leitor, este livro possui momentos tensos também. Eu me recordo do impacto que o filme “O Pianista” me causou, ao ver o capitão Hosenfeld encontrar o Szpilman naquele porão empoeirado enquanto o mesmo tocava piano. Aqui ocorrem fatos similares, enquanto a ladra de livro vê os atos de bondade que sua nova família faz a um judeu.

Empatia e solidariedade em um dos piores momentos da história da humanidade
A Menina que Roubava Livros possui muitos aspectos similares ao filme O Pianista.

A Menina que Roubava Livros traz uma outra visão do povo alemão

A maneira como os alemães são retratados no livro de Zusak são muito mais humanos e muito menos generalizados do quê grande parte das mídias, inclusive livros, como os do ultra nacionalista Tom Clancy, por exemplo. Não só traz uma aproximação maior com as pessoas criadas no livro, aproximando o leitor mais dos personagens pela assemelhação de sentimentos do que pelo heroísmo surreal e pejorativo à outras nações, como também faz com que o leitor sinta ainda mais o peso e a aflição de certas situações que ocorrem no livro.

É um conto pesado por vezes, mas nada comparado ao horrendo livro “O Caçador de Pipas”. O que me deixa triste é saber que existem situações similares no Brasil, onde a camada leitora deste livro, em grande parte a classe média para rica, se emociona com este conto e não conseguem ver o mesmo sofrimento em seus irmãos brasileiros, que sofrem violência similar ou pior pelo status social e econômico em que vivem.



O livro não é livre de alguns defeitos no entanto. Apesar de ser uma obra original e bem contada, por vezes a descrição das cores mencionadas pela morte me parecem um tanto forçadas e sem inspiração, como se fosse para criar uma rotina para a personalidade da Dona Morte. Algumas vezes não me pareceram naturais. E o segundo é que o livro não acaba de todo mal, sendo uma daquelas obras que terminam com o final muito feliz para aquilo que propões, o que pode desapontar alguns, mas, sinceramente, eu adorei essa aproximação!

A Menina que Roubava Livros, 2° Edição da Intrínseca, na redação do Café com Leitura!
A Menina que Roubava Livros, 2° Edição da Intrínseca, na redação do Café com Leitura!

Apesar de ser jovem para adquirir um livro com o Status de Best-seller deste nível, devo dizer que a obra de Zusak “A Menina que Roubava Livros”, é um dever para qualquer amante de leitura (e café!). É um livro que vai além da ação e dos horrores da guerra, ou do heroísmo pouco provável que tanto encontramos na mídia. É uma obra que bate de frente na generalização, no estereótipo e no preconceito incubado e distribuído pelo ultra nacionalismo e lobismo de alguns países. Mas principalmente como os livros podem nortear as pessoas para uma boa direção (mesmo sendo roubados neste caso) mesmo em tempos onde a compaixão e a empatia são raros commodities.

Por três vezes Liesel cruzou com a morte; o suficiente para transformar os humanos em um assunto tão importante quanto as cores para este ser sobrenatural.

Por

Escritor, crítico e redator aficionado por livros e jogos eletrônicos. Conhecido como Veritas Volpe no ambiente artístico e literário.

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